7/09/2009

Nossa última atividade na WEB. Caprichem!!!

Durante esta unidade trabalhamos a idéia de que a globalização é um processo que ocorre há séculos, debruçamo-nos sobre a globalização na colonização do Brasil e a relacionamos com os dias atuais.

Você concorda com esta afirmação?

Explique e argumente:

Qual tipo de globalização você defende?

Trata-se do posicionamento de vocês frente a um processo histórico real em uma perspectiva de superação dos problemas.

Faremos um debate na próxima quinta (16/07) sobre o conteúdo desta atividade e a revisão para a prova no dia seguinte (17/07)

Beijos enormes e bom estudo!!!


6/19/2009

Os Últimos Carijós: Escravidão Indígena em Minas Gerais: 1711-1725

Renato Pinto Venâncio Universidade Federal de Ouro Preto

Nos últimos anos, a historiografia relativa à escravidão indígena revelou uma realidade surpreendente. Contrariando assertivas consagradas, vários estudos mostraram que as populações nativas do Novo Mundo português foram, nos séculos iniciais da colonização, sistematicamente exploradas em fazendas destinadas à agricultura de exportação. Nas áreas economicamente periféricas, o escravismo com base no gentio da terra estendeu raízes profundas, sobrevivendo até a segunda metade do século XVIII. No dia-a-dia das plantações, no cotidiano da vida familiar e até mesmo nos momentos de revolta, os cativos ameríndios compartilhavam seus anseios e expectativas tecendo laços de solidariedade no universo das senzalas.
Em Minas Gerais colonial, a escravidão baseada na exploração do braço nativo foi implantada pelos bandeirantes. Já francamente decadente em São Paulo seiscentista, a instituição sobreviveu até a segunda década de ocupação da região do ouro, para em seguida praticamente desaparecer das vilas, arrais e lavras mineiras.
No presente trabalho, analisaremos a evolução da exploração do trabalho indígena no Termo da Vila Carmo, futura Mariana, durante o período que vai do estabelecimento da Câmara (1711) até a extinção local, ou quase-extinção, da exploração escravista dos grupos ameríndios (1725).
(...)
Infelizmente, a documentação relativa ao início do povoamento de Mariana é pobre em informações a respeito das ocupações destinadas aos indígenas. Alguns indícios mostram, porém, que entre fins do século XVII e início do XVIII o gentio teve uma participação bastante significativa na vida social e econômica local.
Nos anos 1707-1709, por exemplo, os carijós mostraram-se fiéis aos próprios senhores, lutando aos milhares na Guerra dos Emboabas. Na década seguinte, os dados dos inventários post-mortem, estes últimos conservados somente em uma parcela mínima, arrolam várias lavras mineradoras em que os grupos ameríndios respondiam por um porcentual importante da escravaria.
Em 1716, Antônia Leme herdou do marido importantes lavras, e junto a elas 23 cativos, sendo 12 deles carijós. O mesmo ocorreu com Ana Maria Borba que, apesar de ser filha de uma das mais ricas e influentes famílias locais, manteve até a morte quatro carijós em seu plantel de 15 escravos. Mesmo os senhores mais poderosos de Mariana, aqueles que podiam recorrer ao mercado internacional de escravos, não deixavam de dispor de alguns índios remanescentes da primeira fase do povoamento.
Não há como negar que os ameríndios tenham tido um papel econômico importante na fase inicial da extração do ouro. Aliás, alguns testemunhos revelam, bem antes da ocupação sistemática de Minas Gerais, a habilidade do gentio da terra na lide aurífera. É isso, pelo menos, o que sugere a Instrução de Regimento de D. Rodrigo de Castelo Branco, datada de 1679, cujo texto arrola os carijós como trabalhadores regulares nas pobres lavras de Iguape e Cananéia: Terão particular cuidado de que o Apontador Francisco João da Cunha com os índios e ferramentas necessárias trabalhem na data de sua Alteza que lhe mandei medir no Ribeiro de N. Senhora da Conceição, e o Ouro que tirarem os índios, se entregará com recibo ao Apontador Francisco João da Cunha.
Nas mais diversas atividades, a população ameríndia era explorada ou servia de aliada aos bandeirantes paulistas. O levantamento dos raros inventários sobreviventes à ação devastadora dos parasitas e da umidade releva que, no início da década de 1710, os cativos carijós respondiam por 16 a 23% da força de trabalho da Vila do Carmo.
É bastante provável que o gentio também fosse utilizado localmente nas tarefas tradicionalmente a ele atribuídas em São Paulo colonial. Dada a ausência de caminhos , os cabras da terra deviam percorre as íngremes trilhas que uniam as lavras ao núcleo urbano, transportando mercadorias essenciais para a sobrevivência do garimpo. A caça, a pesca e a coleta, em virtude da irregularidade das linhas de abastecimento, também parecem ter tido bastante importância nos primeiros tempos da colonização mineira. Enquanto os homens encarregavam-se destas tarefas, as mulheres ocupavam-se do artesanato doméstico ou então trabalhavam na agricultura de subsistência.
(...)
A partir de 1718, quem percorresse as lavras marianenses perceberia ano após ano o desaparecimento do gentio da terra. Na década de vinte, a escravidão indígena marianense entrara em franco declínio. Os carijós de idade avançada e doentes, pouca serventia tinham, atingindo preços irrisórios que não se equiparavam aos dos pequenos animais, ou representavam uma fração mínima do valor referente aos negros africanos.
(...)
Geralmente, o metal precioso de Guarapiranga era explorado nos rios Piranga, Calambau, Turvo e Bacalhau, ou então nas vertentes da Serra da Piedade e do Tatu. As terras que ficavam nas margens dos rios também prestavam-se à atividade agrícola. Os donos das lavras muitas vezes associavam a lide aurífera à produção de alimentos, o que permitia o desenvolvimento de uma incipiente agricultura mercantil de subsistência, produtora de milho, banana, mandioca e cana-de-açúcar. Não era raro os inventários registraram numerosos engenhos e alambiques de cobre nas imediações do arraial ou nas paróquias vizinhas.
Durante a primeira metade do século XVIII, a freguesia permaneceu como limite da área de mineração; contribuía para isso a existência de uma barreira - bem mais poderosa do que os acidentes geográficos ou as florestas virgens - representada pelos índios bravios da Zona da Mata. Os camancâns, os pataxós, os maxacalis, os botocudos e os puri-coroado, durante muitos anos impediram o avanço das hostes mineradoras, estabelecendo uma fronteira militar sobre a fronteira econômica.
Para os grupos indígenas não domesticados, o arraial de Guarapiranga encerrava o limite aceitável da expansão colonial. As incursões para além daquele limite eram ferozmente rechaçadas, como ocorreu em 1731 e 1733, por ocasião dos ataques indígenas às freguesias de Barra Longa e Furquim.
Paralelamente à resistência indígena, a Coroa portuguesa, temerosa de que a abertura de novos caminhos em direção ao litoral pudesse intensificar o contrabando e a evasão fiscal, não estimulava a ocupação da Zona da Mata. Durante várias décadas a exploração do ouro foi protelada até que se conseguisse a aquiescência da Metrópole e a esperada vitória sobre os índios.
Na prática, a fixação da nova fronteira colonial só ocorreu em 1758, por ocasião da ocupação das matas do Pessanha. Ao longo dos anos, os primeiros povoadores dessa nova região foram progressivamente conquistando outras áreas, até chegarem aos contrafortes da Serra da Mantiqueira, na região do Rio Pomba, onde, em 1767, foram abertas lavras auríferas.
(...)

Retirado do site: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-01881997000200009&lng=pt&nrm=iso

O país das Minas é, e foi sempre, a capitania de todos

CHAVES, Cláudia Maria das Graças.
Perfeitos Negociantes: Mercadores
das Minas Setecentistas.*

FURTADO, Júnia Ferreira. Homens
de Negócio: A Interiorização da Metrópole e do
Comércio nas Minas Setecentistas.**

André Figueiredo Rodrigues
Mestre-História/USP

A exploração econômica e a evolução populacional sentidas na América portuguesa no período colonial deveram-se a inúmeros fatores, tanto externos quanto internos. Relativamente a estes últimos, salienta-se prioritariamente, estudando o século XVIII, o povoamento e a colonização de Minas Gerais.
A penetração rumo ao interior exigiu que Portugal abrisse novas rotas comerciais que ligassem o litoral e os seus portos de abastecimento de mercadorias ao intricado, afastado e desconhecido “sertão” central da América portuguesa.
O descobrimento e a exploração do ouro e das pedras preciosas definiram a forma de ocupação da capitania mineira. A concentração de grande quantidade de habitantes, nos centros urbanos das Minas Gerais, acelerou o desenvolvimento das novas rotas de abastecimento.
Desde o início do século XVIII, produtores rurais estabeleciam-se na circunvizinhança desses centros urbanos e ao longo dos principais caminhos que levavam às zonas mineradoras, com o intuito de fornecer os suprimentos básicos à sobrevivência daquela população.
Não só de produtores rurais vivia o abastecimento da região mineira. Para lá, também se dirigia um grande número de comerciantes ligados às casas comerciais do Rio de Janeiro, Bahia e de Portugal. Estes ofereciam aos mineiros toda a sorte de gêneros, sobretudo artigos de luxo, destinados à população mais abastada, como, por exemplo, comestíveis importados do reino, equipamentos para a mineração e instrumentos agrícolas, além de uma série de utilidades domésticas.
Os estudos das relações comerciais e dos mercadores que atuaram na capitania de Minas Gerais, na primeira metade do século XVIII, ganharam duas novas contribuições: os livros de Cláudia Maria das Graças Chaves, Perfeitos Negociantes: Mercadores das Minas setecentistas,e de Júnia Ferreira Furtado, Homens de Negócio: A Interiorização da Metrópole e do Comércio nas Minas Setecentistas. (...)

Retirado do site: http://www.scielo.br/pdf/rbh/v21n42/a16v2142.pdf

5/05/2009

Descalços, violentos e famintos

Entre cascavéis, onças e flechas inimigas, os bandeirantes ainda perigavam morrer de fome em suas aventuras pelos sertões

Glória Kok

Altivos, imponentes, longas botas, chapéu e armas vistosas. Esqueça a imagem típica dos bandeirantes difundida pelos livros didáticos. A realidade era bem outra: as tropas caminhavam descalças por extensos territórios, sujeitas a todo tipo de desconforto, à mercê dos ataques de índios e de animais, fustigadas pela fome.
Antes de virar herói – invenção da elite no início da República, para enaltecer a capacidade de liderança dos paulistas –, o bandeirante foi o protagonista de uma colonização árdua e violenta, que durante mais de dois séculos desenvolveu uma cultura própria, bem distante dos padrões europeus.
Desde o século XVI até as primeiras décadas do XVIII, expedições partiram em busca de metais preciosos e de índios para serem vendidos como escravos nas plantações que abasteciam a Colônia. Essas incursões ganharam o nome de “bandeiras” – possivelmente por causa do costume tupiniquim de levantar uma bandeira em sinal de guerra.

retirado do site: www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=1815

E a escravidão... como funcionava?

Como acontecia o comércio de trabalhadores escravizados na Colônia e, principalmente, o comércio interno ocasionado pela mudança do centro econômico colonial para a região "das minas geraes" no centro-sul?

Clique no link abaixo e boa leitura... Basta ler da página 121 à 126.
www.afroasia.ufba.br/pdf/27_8_tumbeiros.pdf

Primeira parada: Portugal

É engano pensar que o ouro brasileiro ficou todo na metrópole. O grosso de nossas moedas foi parar na Inglaterra como pagamento de dívidas
Leonor Freire Costa, Maria Manuela Rocha e Rita Martins de Sousa

A boa nova correu com a rapidez que merecia: num território do Império português foi encontrado ouro, e em abundância! Estava dada a largada para a exploração da riqueza natural, e era preciso garantir que ela revertesse no maior benefício possível para a Coroa.

As remessas de ouro para Lisboa contaram com frotas em comboio até 1765. Uma vez extinto este regime de navegação, abriram-se duas possibilidade de transporte: ou em fragatas especialmente armadas para isso ou a bordo de navios mercantes, mediante a declaração de ouro embarcado. Passaram então a sair do porto de Lisboa para o Rio de Janeiro duas fragatas de guerra por ano, uma em abril e outra em outubro. A primeira ficava um mês no Rio, seguindo depois para a Bahia, onde permanecia por quinze dias. A segunda fragata demorava-se um mês no Rio, regressando diretamente a Lisboa. Deste modo seguiram os envios pertencentes à Fazenda Real. Quanto às remessas de agentes privados, os navios mercantes poderiam navegar com a escolta daquelas fragatas armadas.

Fiscalizar bem a entrada de ouro era tão importante quanto registrar os pormenores de sua produção na Colônia e de seu transporte até Portugal. Por lei de 2 de fevereiro de 1720, o registro de chegada de remessas ao Reino serviu de informação para o pagamento de um novo tributo, designado por “1% do ouro do Brasil”. Consistia, precisamente, na aplicação dessa porcentagem sobre o total do valor do ouro transportado, e era cobrado no ato de recepção e entrega das remessas na Casa da Moeda de Lisboa. Para garantir mais eficiência à operação, assim que o imposto foi criado a Casa da Moeda deslocou-se para as proximidades das margens do Tejo, instalando-se no edifício da extinta Junta do Comércio do Brasil. (...)